terça-feira, 30 de agosto de 2011

Preparar para prevenir.

O entrevistado desta semana na AGÊNCIA BRASÍLIA é o primeiro secretário da Defesa Civil da história do DF, Paulo Roberto Matos. Ele resume o trabalho do órgão em uma palavra: prevenção!




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    Secretário de Defesa Civil Paulo Matos, Foto: Mary Leal.



    A AGÊNCIA BRASÍLIA entrevista esta semana o secretário da Defesa Civil do Distrito Federal, Paulo Roberto Matos, que conversa conosco sobre a nova pasta, criada no início do governo Agnelo Queiroz e que atua pela primeira vez com status e independência de secretaria.


    Servidor aposentado do Banco do Brasil, Paulo Matos, 62 anos, veio do Rio de Janeiro para o Distrito Federal em 1980. A ideia de criar a pasta da Defesa Civil foi do próprio secretário Paulo Matos, antes mesmo de saber que seu nome seria o escolhido pelo governador Agnelo Queiroz. 


    Como surgiu o convite para assumir a Defesa Civil, que até então ainda não era secretaria?

    Foi quando nós estávamos conversando com o já eleito e ainda não empossado governador Agnelo Queiroz, no período de transição entre outubro e dezembro de 2010. Sugerimos, desde o início, a criação da Secretaria de Defesa Civil, que era uma subsecretaria ligada à Segurança Pública. No final da transição o governador transformou a Defesa Civil em secretaria e pediu que eu fosse o secretário e o coronel Ribeiro [Luiz Carlos Ribeiro da Silva, do Corpo de Bombeiros], o adjunto. 


    Como foi montado o quadro nos primeiros meses, já que a Defesa Civil não tinha estrutura própria?

    O mesmo quadro que compunha a subsecretaria foi aproveitado para formar a secretaria, e vem até hoje. Agora, com a reestruturação, deverá passar de 24 pessoas para 75, sendo composta por três subsecretarias e uma UAG [Unidade de Administração Geral].


    Como é o funcionamento da secretaria?

    Ela é voltada para a formação dos cidadãos, do Estado e de seus servidores. Defesa Civil é muito mais prevenção do que a ação depois que acontece. O que podemos fazer é investir em treinamento. Precisamos criar uma área de formação e informação dentro da secretaria, agregada com os bombeiros e com todo esse pessoal que conhece a área para ensinar à população o que é a Defesa Civil. 


    Como é feito o controle e a prevenção das áreas de risco?

    Neste período de transição e transformação da subsecretaria em secretaria, o trabalho de prevenção não ocorreu da forma como desejávamos. Usamos nossos levantamentos prévios e agimos para resolver o problema mais crucial, que era a Vila Rabelo, que estava caindo. Ainda não está resolvido totalmente, mas já não é aquela tragédia que estava lá antes.


    Quais os principais problemas encontrados no DF?


    Os maiores são erosões. Na Vila Rabelo, há casas próximas a barracos. Na Estrutural, temos casas em situação de risco. Outro problema é a seca, que em determinados momentos faz a umidade cair para 12%, 10%, e que muitas vezes é mais seco que no Deserto do Saara. Mas, graças a Deus, é um período muito curto. Então, nesse momento, o maior problema é a seca, que com uma ponta de cigarro, que se joga fora, incendeia a vegetação.





    Como o DF está se preparando para a estação das chuvas?

    Vamos começar uma campanha de limpeza da cidade, desde telhados, bueiros até as ruas. As folhas das árvores que caem vão parar nos bueiros, por isso temos que limpar e preparar a cidade para as chuvas que vêm, provavelmente em outubro. Nosso trabalho também passará pela mídia, que tem um papel fundamental: informar a população. Nós temos que orientar a população, para que ela saiba o que fazer e nessa hora a mídia é crucial à prevenção. Não adianta chegar a um lugar alagado, temos que evitar chegar naquele ponto.


    Como é a relação com o Corpo de Bombeiros Militar do DF?

    O Bombeiro vai na hora do sinistro para resolvê-lo, como no caso de um incêndio. Já a Defesa Civil vai para coordenar a área ao redor. Em todo o Brasil ela é identificada com o governo. Quando eu vou a reuniões com representantes de outros estados, digo o seguinte: ‘eu sou, talvez, o único não militar secretário de Defesa Civil. No Brasil existem apenas quatro secretarias de Estado de Defesa Civil. O resto são coordenadorias, diretorias e subsecretarias, no país talvez eu seja o único civil, os demais são quase todos bombeiros e alguns policiais militares.
    Na realidade a Defesa Civil não é necessariamente do corpo militar, mas é uma tradição no Brasil ser ligada ao Corpo de Bombeiros. Então, não tem como não trabalhar afinado com ele, no caso de Brasília. O comandante-geral do Corpo de Bombeiros, coronel Márcio Matos, é uma pessoa que conheci há oito meses e houve entre nós uma empatia fabulosa. É fantástica a relação da Defesa Civil com o Corpo de Bombeiros. Eu só tenho a elogiá-lo, porque sempre que solicita foi e é parceiro. E tem que ser dessa forma, já que o governo é um só e nós temos que prestar serviços ao cidadão brasileiro.


    Como atua a Defesa Civil no momento de crise?

    O princípio básico da Defesa Civil é, na hora do sinistro, a coordenação. Ela coordena as áreas que estão envolvidas para resolver a crise. Se precisar dos bombeiros, da Secretaria de Saúde, da Polícia Militar, do que precisar a coordenação está com a Defesa Civil.  Porque se você apenas colocar todos eles trabalhando vai faltar uma coordenação e a Defesa é o governador ali. Depois que o evento termina ai cada um fica responsável por sua parte. 


    Como a população pode ajudar?

    É comum haver ocupações irregulares que ocasionem uma série de consequências para a natureza, já que não houve estudo posterior do meio ambiente. Para se criar uma cidade é preciso se fazer todo um estudo, naquele caso (das áreas de risco) a população simplesmente foi para lá. Para onde a população invasora vai? Para onde ninguém está, onde ficam as áreas mais perigosas: beira de rio, precipício, local onde há erosão e morros. As pessoas vão para lá, porque ninguém quer ir. O que a população poderia fazer é não ir para esses locais, porque normalmente há algum problema, que vai ocasionar uma tragédia lá na frente. Por isso é tão importante preparar a população.


    Como seria a atuação da Secretaria em conjunto com o cidadão?

    Não temos como cuidar de tudo, mas quem melhor para saber quando há um problema? Eu aqui no gabinete ou o cidadão que mora lá em Ceilândia, no Plano Piloto, e que está vendo a coisa que está para acontecer lá na sua rua ou na quadra onde ele mora? Por isso temos que preparar esse cidadão, para que ele detecte a possibilidade de um sinistro e chame o Estado para que resolva. É claro que em três ou quatro anos não será possível treinar todo mundo, mas temos que treinar o maior número possível de pessoas.


    Como o senhor analisa o comportamento do brasileiro em meio a uma situação de emergência ou de risco?

    Tem que haver uma quebra de paradigma. Mudar a cultura de um povo. Nós não somos de prevenção, de formação, só resolvemos os problemas depois que eles acontecem e a gente tem que se preocupar antes de acontecer. Se você tem um carro tem que fazer manutenção nele, se você tem uma casa tem que mantê-la limpa se não ela vai se deteriorando. A Defesa Civil é isso. É prevenção e informação.


    Em abril a Secretaria realizou o 1º Encontro de Voluntários do DF. Quais foram os resultados obtidos com o evento?

    Primeiro: nós mobilizamos a comunidade. Ela é participativa, mas precisa de um estimulo do Estado. Sozinha, ela pode ir por um caminho que às vezes não é o correto. Então, a função do Estado é mobilizar a comunidade para que ela possa atuar.
    Quando prepararmos as pessoas para as ideias da Defesa Civil teremos em cada administração um representante e isso não gera despesa, não é cargo comissionado. Ele é um representante trabalhando em prol da Defesa Civil e para a comunidade da região onde mora.
    Quando tivermos um coordenador treinado pela Defesa Civil em cada quadra, e chegarmos ao ponto ter um líder comunitário, ou um prefeito de quadra, como há no Plano Piloto, sob a ótica da Defesa Civil seria um trabalho maravilhoso. Inclusive, nós já estamos fazendo contato com todas as administrações. Isso é bom para o Estado, bom para a Secretaria, para a administração e excelente para a comunidade.




    O que o senhor pretende deixar de legado ao final de 2014?

    Eu repito: minha grande meta é que nunca mais deixe de existir a Defesa Civil como Secretaria do Distrito Federal. Qualquer que seja o governador que venha depois do governador Agnelo Queiroz seja obrigado a nomear o secretário de Defesa Civil. Se eu conseguir fazer com que nunca mais ela deixe de existir enquanto secretaria eu terei atingido um dos meus principais objetivos. Essa é uma área que eu não conhecia e que eu me apaixonei e que, hoje, acredito que é fundamental existir enquanto secretaria e ministério. O país precisa ter um Ministério de Defesa Civil.


    Agencia Brasília.


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