Os brasilienses começaram a sentir, ontem, os efeitos da seca que
castiga a capital federal. A umidade relativa do ar atingiu níveis
críticos, chegando a 20%. Foram as 24 horas com a umidade mais baixa
deste ano, segundo levantamento do Instituto Nacional de Meteorologia
(Inmet). Os índices foram aferidos exatamente um dia após a entidade
registrar a tarde mais quente do inverno no DF. Em pleno mês de julho,
quando as pessoas preparam roupas grossas e cobertores para a chegada do
frio, os termômetros, na quarta-feira, chegaram a 29 ºC.
Para
muita gente, foi difícil trabalhar nesses dois últimos dias. Nem a
garrafinha de água e o ar-condicionado deram conta do recado. Em uma
obra no Setor de Rádio e Televisão Sul, operários reclamaram de
dificuldades em respirar, além de boca e olhos secos. Narciso de Lima,
35 anos, precisou sair mais cedo do trabalho. “Estava tendo tontura
enquanto carregava tijolos. Tentei descansar, mas não passou. Ainda está
faltando ar”, relatou.
Casos como o de Narciso devem se
multiplicar em toda a região, segundo especialistas. Até o próximo dia
10, o Inmet não prevê alterações significativas no tempo do DF, o que
concorre também para o aumento do número de queimadas. Embora o mês mais
severo para os incêndios seja agosto, Brasília registrou, este ano —
assim como ontem —, períodos com umidade abaixo de 30%. Segundo a
Organização Mundial da Saúde (OMS), níveis abaixo desse valor configuram
estado de atenção.
O Corpo de Bombeiros Militar do DF (CBMDF)
registrou 103 ocorrências de incêndios florestais nos sete primeiros
dias deste mês. Mais de 742 hectares de área verde foram consumidos
pelas chamas. Somente no entre os dias 5 e 6, houve 39 ocorrências dessa
natureza, responsáveis pela destruição de uma área equivalente a 141
campos de futebol. No dia mais quente de julho, uma unidade de
conservação próxima à Fazenda Água Limpa (FAL), pertencente à
Universidade de Brasília, foi atingida por uma grande queimada.
Calor
Mudanças sutis na
temperatura têm previsão de início na próxima segunda-feira, quando
volta a esfriar durante a tarde. A máxima esperada é de 25ºC.
Meteorologistas alertam, contudo, que o clima ameno não deve durar muito
tempo. Nesta época do ano, normalmente, prevalecem as massas de ar de
origem polar no território, como explica a meteorologista Odete Marlene
Chiesa, do Inmet. “Essa nebulosidade é a mesma que fez a temperatura
cair no Sul do país, mas, na medida em que ela se aproxima do Norte do
Brasil, recebe mais radiação. Foi o caso de quarta-feira aqui no DF.
Isso se explica pela presença de sol o dia inteiro na nossa região”,
explica.
Ainda segundo Odete, no mês de julho a temperatura
máxima gira em torno de 25,1ºC, mas apenas no dia 2 os registros se
aproximaram desse patamar. Nos dias subsequentes, os termômetros
marcaram níveis superiores a 26ºC. “Apesar do calor durante o dia, nas
madrugadas, por volta das 4h30 e das 6h30, são registradas as
temperaturas mais baixas. Amanhã, por exemplo, a temperatura deve ficar
em 10ºC, 11ºC”, previu.
Saúde em alerta
Variações
constantes no clima ao longo do dia podem trazer riscos à saúde,
adverte o pneumologista do Hospital Universitário de Brasília (HUB)
Ricardo Martins. “O calor não é o problema, mas a variação do tempo,
sim. É complicado, principalmente, para pessoas que têm alergia
respiratória. Casos de asma e rinite são comuns neste período. A pessoa
precisa se cuidar, saindo com roupas intermediárias. Assim, ela poderá
se acondicionar e suportar uma eventual queda da temperatura. Além
disso, deve se hidratar sempre. Por conta da seca, é recomendado evitar
exercícios físicos entre as 9h e as 17h”, acrescenta.
A
professora Elisa Santos, 25 anos, caminhava ontem de manhã pelo Parque
da Cidade. O sol forte não foi suficiente para impedi-la de fazer esse
exercício de rotina. “Faça sol ou faça chuva, estou sempre aqui. Sei dos
riscos, por isso tento chegar cedo para evitar o sol escaldante. Bebo
bastante água também”, conta. “Acho que muita gente adoece justamente
por não fazer atividade física e não cuidar da alimentação.”
A
síndrome do olho seco faz parte das chamadas doenças de inverno. Segundo
especialistas, ela é potencialmente séria, pois pode gerar uma condição
crônica. A partir disso, a capacidade de formação dos fluidos
lubrificantes dos olhos fica comprometida, o que aumenta os riscos de
infecção. A evolução do problema pode causar cegueira. O oftalmologista
Juscelino de Oliveira estima que em períodos de baixa umidade os casos
aumentem em 60% no DF. “O diagnóstico precoce da doença é extremamente
importante, pois o problema evolui rapidamente, principalmente quando o
paciente usa métodos caseiros para tentar amenizar o mal-estar”, aponta.
Termômetro
UMIDADE
20%
Umidade
relativa do ar registrada no dia 7 deste mês. Dia mais seco do ano.
23%
Umidade
relativa do ar registrada em 7 de julho de 2010. Dia mais seco de
julho.
12%
Umidade relativa do ar
registrada em 4 de setembro de 2010. Dia mais seco do ano.
TEMPERATURA
28,9ºC
Índice
registrado no dia 6 deste mês. Dia mais quente do inverno neste ano.
30ºC
Temperatura
registrada em 14 de julho de 2010. Dia mais quente do inverno no ano
passado.
Correio Braziliense.
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