sexta-feira, 8 de julho de 2011

Temperatura em alta é sinal de que a seca deste ano será severa no DF

Os brasilienses começaram a sentir, ontem, os efeitos da seca que castiga a capital federal. A umidade relativa do ar atingiu níveis críticos, chegando a 20%. Foram as 24 horas com a umidade mais baixa deste ano, segundo levantamento do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Os índices foram aferidos exatamente um dia após a entidade registrar a tarde mais quente do inverno no DF. Em pleno mês de julho, quando as pessoas preparam roupas grossas e cobertores para a chegada do frio, os termômetros, na quarta-feira, chegaram a 29 ºC.

Para muita gente, foi difícil trabalhar nesses dois últimos dias. Nem a garrafinha de água e o ar-condicionado deram conta do recado. Em uma obra no Setor de Rádio e Televisão Sul, operários reclamaram de dificuldades em respirar, além de boca e olhos secos. Narciso de Lima, 35 anos, precisou sair mais cedo do trabalho. “Estava tendo tontura enquanto carregava tijolos. Tentei descansar, mas não passou. Ainda está faltando ar”, relatou.

Casos como o de Narciso devem se multiplicar em toda a região, segundo especialistas. Até o próximo dia 10, o Inmet não prevê alterações significativas no tempo do DF, o que concorre também para o aumento do número de queimadas. Embora o mês mais severo para os incêndios seja agosto, Brasília registrou, este ano — assim como ontem —, períodos com umidade abaixo de 30%. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), níveis abaixo desse valor configuram estado de atenção.

O Corpo de Bombeiros Militar do DF (CBMDF) registrou 103 ocorrências de incêndios florestais nos sete primeiros dias deste mês. Mais de 742 hectares de área verde foram consumidos pelas chamas. Somente no entre os dias 5 e 6, houve 39 ocorrências dessa natureza, responsáveis pela destruição de uma área equivalente a 141 campos de futebol. No dia mais quente de julho, uma unidade de conservação próxima à Fazenda Água Limpa (FAL), pertencente à Universidade de Brasília, foi atingida por uma grande queimada.

Calor
Mudanças sutis na temperatura têm previsão de início na próxima segunda-feira, quando volta a esfriar durante a tarde. A máxima esperada é de 25ºC. Meteorologistas alertam, contudo, que o clima ameno não deve durar muito tempo. Nesta época do ano, normalmente, prevalecem as massas de ar de origem polar no território, como explica a meteorologista Odete Marlene Chiesa, do Inmet. “Essa nebulosidade é a mesma que fez a temperatura cair no Sul do país, mas, na medida em que ela se aproxima do Norte do Brasil, recebe mais radiação. Foi o caso de quarta-feira aqui no DF. Isso se explica pela presença de sol o dia inteiro na nossa região”, explica.

Ainda segundo Odete, no mês de julho a temperatura máxima gira em torno de 25,1ºC, mas apenas no dia 2 os registros se aproximaram desse patamar. Nos dias subsequentes, os termômetros marcaram níveis superiores a 26ºC. “Apesar do calor durante o dia, nas madrugadas, por volta das 4h30 e das 6h30, são registradas as temperaturas mais baixas. Amanhã, por exemplo, a temperatura deve ficar em 10ºC, 11ºC”, previu.

Saúde em alerta
Variações constantes no clima ao longo do dia podem trazer riscos à saúde, adverte o pneumologista do Hospital Universitário de Brasília (HUB) Ricardo Martins. “O calor não é o problema, mas a variação do tempo, sim. É complicado, principalmente, para pessoas que têm alergia respiratória. Casos de asma e rinite são comuns neste período. A pessoa precisa se cuidar, saindo com roupas intermediárias. Assim, ela poderá se acondicionar e suportar uma eventual queda da temperatura. Além disso, deve se hidratar sempre. Por conta da seca, é recomendado evitar exercícios físicos entre as 9h e as 17h”, acrescenta.

A professora Elisa Santos, 25 anos, caminhava ontem de manhã pelo Parque da Cidade. O sol forte não foi suficiente para impedi-la de fazer esse exercício de rotina. “Faça sol ou faça chuva, estou sempre aqui. Sei dos riscos, por isso tento chegar cedo para evitar o sol escaldante. Bebo bastante água também”, conta. “Acho que muita gente adoece justamente por não fazer atividade física e não cuidar da alimentação.”

A síndrome do olho seco faz parte das chamadas doenças de inverno. Segundo especialistas, ela é potencialmente séria, pois pode gerar uma condição crônica. A partir disso, a capacidade de formação dos fluidos lubrificantes dos olhos fica comprometida, o que aumenta os riscos de infecção. A evolução do problema pode causar cegueira. O oftalmologista Juscelino de Oliveira estima que em períodos de baixa umidade os casos aumentem em 60% no DF. “O diagnóstico precoce da doença é extremamente importante, pois o problema evolui rapidamente, principalmente quando o paciente usa métodos caseiros para tentar amenizar o mal-estar”, aponta.


Termômetro
UMIDADE
20%
Umidade relativa do ar registrada no dia 7 deste mês. Dia mais seco do ano.

23%
Umidade relativa do ar registrada em 7 de julho de 2010. Dia mais seco de julho.

12%
Umidade relativa do ar registrada em 4 de setembro de 2010. Dia mais seco do ano.


TEMPERATURA
28,9ºC
Índice registrado no dia 6 deste mês. Dia mais quente do inverno neste ano.

30ºC
Temperatura registrada em 14 de julho de 2010. Dia mais quente do inverno no ano passado.



Correio Braziliense. 

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