Com a chegada da chuva no Distrito Federal, famílias que ocupam áreas
irregulares próximas a encostas e à beira de rios se veem em situação de
risco de vida diante da iminência de desmoronamento de terra. Conforme
mapeamento da Secretaria de Estado de Defesa Civil do DF, imóveis de
pelo menos 10 regiões da capital foram construídos em zonas de perigo. O
bairro Alto da Bela Vista, na Fercal, é uma delas. Dezesseis famílias
receberam notificação do órgão sobre o alerta. No entanto, muitos ainda
insistem em continuar nas casas. No total, a Defesa Civil estima que
1.740 pessoas estejam na mesma situação.
A doméstica Lionai dos
Santos da Silva, 40 anos, o marido e a única filha do casal, de 4 anos
de idade, estão acomodados em um dos lotes que corre o risco de
despencar de uma altura de quase seis metros. Desde que foi emitido o
alerta do órgão responsável pelo registro, há uma semana, a família vive
em agonia. “Já estou providenciado outra moradia para a gente, porque
não dá mais para ficar aqui. Quando chove à noite, nem consigo dormir”,
afirmou a moradora do bairro Alto da Bela Vista, na Fercal. A poucos
metros de onde vive Lionai, o lavrador Sandoval Francisco de Oliveira,
47 anos, recusa-se a deixar o lugar que ele, a esposa e quatro filhos
vivem há dois anos. A casa está alojada ao lado de uma espécie de muro
de terra, que a qualquer momento pode se desmanchar e encobrir o imóvel.
“Desde que eu vim morar aqui existe isso. Não tenho medo porque acho
que o terreno não irá ceder”, disse o lavrador.
Sem
regularização
O subsecretário da Defesa Civil, coronel
Sérgio Bezerra, diz que o Estado não pode investir em áreas irregulares.
“É inviável gastar em obras como captação de água das chuvas, por
exemplo. Para que isso seja feito, exige-se regularização do local, já
que a maioria é de ocupações desordenadas”, ressaltou o oficial. Bezerra
ainda afirmou que vários órgãos do Governo do Distrito Federal se
preparam para atender à população em casos de necessidade de remoção,
entre eles, a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social e
Transferência de Renda (Sedest), a Secretaria da Ordem Pública do
Distrito Federal (Seops) e a Companhia de Desenvolvimento Habitacional
do DF (Codhab).
Enquanto o governo não cria oportunidades de
mudança de parte dessas famílias, a saída para muitos é conviver com o
perigo. É o caso do aposentado Rosemiro Alves dos Santos, 69 anos, e da
dona de casa Maria Silva dos Santos, 64. O orgulho de terem construído a
própria casa há um ano, na Fercal, foi desmoronado quando souberam que
precisariam deixar o local assim que a chuva chegasse. Mesmo concordando
com o aviso da Defesa Civil, o casal não pensa em sair de lá. “Para
onde eu vou? Minha vida toda está aqui. Todos da minha família moram
aqui”, desabafou Rosemiro. Além de situado em uma área de risco, o lote
está cercado de problemas: rachaduras, infiltrações, afundamento do
piso.
Volume normal
O Instituto Nacional de
Meteorologia (Inmet) afirma que a chuva veio para ficar. A precipitação
chegou graças a uma frente fria vinda do Sul do país e da umidade do
Amazonas. Desde o começo do ano, choveu 651mm, número considerado normal
para os parâmetros do Inmet — foram 10,6mm apenas nos dois primeiros
dias de outubro.
Do Correio Web.
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